terça-feira, 28 de julho de 2020

O FOGO DA MARCELINA


Localizado na comunidade rural São Francisco, em Catolé do Rocha, no Sertão paraibano, o serrote da Marcelina foi palco de um dos combates mais cruéis do cangaço dos Brilhantes contra os Limões.


Cruzeiro da comunidade São Francisco

Serrote da Marcelina


“Como a ‘força’ não conhecia a região, contava com o apoio dos Limões na perseguição aos Brilhantes”.

Narra Alício Gomes Arruda Barreto (1901-1965), em seu raríssimo livro “Solos de Avena” que, por volta da segunda metade da década de 70 do século XIX, estavam os Brilhantes entrincheirados numas pedras, quando a ‘força’ apareceu no caminho próximo ao sítio Colina na estrada que liga Catolé do Rocha a Patu/RN. Jesuíno Brilhante foi o primeiro que atirou, derrubando um dos soldados da vanguarda. A ‘força de linha’, quando recebeu os tiros recuou e tentou cercar a emboscada dos Brilhantes, que conheciam essa estratégia. Eles revidaram com uma descarga e fugiram para outro lugar de onde procuraram dar tiros certeiros. Depois, correram para bem longe. Por adotar essa tática de guerrilha, os Brilhantes sempre levavam vantagens nos embates. Depois dessa escaramuça, “o governo tomou em consideração e as diligências engrossaram”. Jesuíno Brilhante cercou os Limões que restavam, numa casa velha no sopé do serrote da Marcelina. Depois de renhida luta, acabaram-se as munições do inimigo e Jesuíno, conhecendo de quem se tratava, gritou: “O que tentar sair morre na bala”. Mandou cobrir de lenha a velha casa pelos feirantes que passavam e ateou fogo. Dentro de pouco tempo as chamas invadiram totalmente o casebre e os “miseráveis” morriam gritando com as dores das queimaduras. Pedro Limão ainda saiu se queimando, quando foi alvejado e caiu morto. A casa foi incinerada e os cadáveres reduzidos a carvão. Assim havia concluído sua jura assinalada com cruzes nos bacamartes dos brilhantes. Estava terminada a tarefa. Acreditou Jesuíno Brilhante (1844-1879), “o grande leão sertanejo”, assim alcunhado por Barreto. Esta narrativa foi ratificada pelo depoimento do senhor José Firmo Limão, no ano de 2012, aos 99 anos. Seu José era filho de Maria Francisca da Conceição, sobrinha de Preto Limão, único sobrevivente do ‘Fogo da Marcelina’ e comandante da diligência que matou Jesuíno Brilhante, no Serrote da Tropa, na zona rural de São José de Brejo do Cruz/PB.


José Firmo Limão sendo entrevistado no São Francisco pelo pesquisador Epitácio Andrade

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Performance


Artista patuense fará apresentação em Natal
Durante o relançamento do livro Fui ao Croatá... - Uma Geolovehistory, do médico psiquiatra e pesquisador social Epitácio de Andrade Filho, que ocorrerá no dia 14 de fevereiro de 2019, a partir das 19 horas, no Bardalos Comida e Arte, localizado no bairro Cidade Alta, em Natal. O artista patuense Conde Suassuna fará uma intervenção performática, envolvendo poesia, música e teatro.
Conde Suassuna é graduando do curso de Letras (UERN-Patu), onde desenvolve seu trabalho de conclusão do curso (TCC) sobre a análise do discurso social do cangaço de Jesuíno Brilhante refletido na música a cantiga de Jesuíno, de Ariano Suassuna.
Professor Zé Antenor com o autor presenteando Ariano Suassuna



Cantiga de Jesuíno - Ariano Suassuna
Meus senhores que aqui estão
Vou contar meu desatino
A canção do cangaceiro que se chamou
Jesuíno
Seu bacamarte de prata
E o luar do seu destino
Num gibão
Todo vermelho
Um punhal no cinturão
Bem montado num cavalo
Cujo nome é Zelação
Jesuíno virou logo, ai, ai, ui, ui
Rei do povo do Sertão.

Ver a terra era seu sonho
Nobre terra do Sertão
Com o povo repartida
Pelo sol da partição
E é por isso, que ele canta
De bacamarte na mão

Eu tenho um espelho de cristal
Foi Jesus Cristo que limpou ele do pó
Mas lá um dia a terra se alumia
E o meio dia se espalha a luz do sol.

Mas os ricos se juntaram
Com o governo da nação
Lhe botaram emboscada
E ele morreu a traição
Mas o povo não esquece
Sonha com ele o sertão
E se diz que ainda hoje
Em qualquer ocasião
Alguém sofre uma injustiça
Nos caminhos do Sertão
Soam tiros do seu rifle, ai, ai, ui, ui
E o tropel de zelação
E Jesuíno brilhante
Volta feito aparição
Queima do dono da injustiça
De bacamarte na mão
Sua voz então se afasta
Cantando a mesma canção

A produção cultural recebe o decisivo apoio do engenheiro agrônomo Francisco Rodrigues (Dr. Kavey do INCRA).
Dr. Kavey e Conde Suassuna

sábado, 29 de julho de 2017

Arte Política


 Há 18 anos, Movimento Social Realizava Exposição Histórica

 

                   Em 30 de julho de 1999, o movimento  Patu 2001 realizou a exposição: “Patu Além do Turismo Romeiro”, na CLINIVIVA - Pronto Atendimento em Saúde Mental, bairro Barro Vermelho, em Natal, capital do Rio Grande do Norte.
Convite exposição
 
 
           Presente ao evento, o artista plástico Ricardo Veriano Fernandes expôs a tendência histórico-cultural  do turismo patuense ao som da  música de Neemias Lopes e Paulo Sarkis.
Zé Pequeno e Ricardo cantarolando a corujinha (música de domínio popular)
 
Carlinhos Zens, Paulo Sarkis em 1999
 
 
             Essa Tendência ficara marcada pela retomada  dos trabalhos de resgate da história e preservação da memória do cangaço de Jesuíno Brilhante (1944-1979), e seu bando contra família Limão iniciados com as pesquisas para elaboração da revista Igapó da Fundação Cultural  José Augusto/RN sobre Jesuíno Brilhante, em 1981, por Emanoel Cândido do Amaral , Aucides Bezerra de  Sales e Luiz Elson.



  
Revista Jesuíno Brilhante (1987)
 

                                                          
 Revista Jesuíno Brilhante

Cartilha Jesuíno Brilhante
 
 
                      As atividades da retomada culminaram com várias produções anuais do espetáculo teatral “ O Auto de Jesuíno”, em Patu/RN; com a dissertação de mestrado Lugares de Memória: Jesuíno Brilhante e os testemunhos do cangaço nos Sertões do oeste potiguar e fronteira paraibana (João Pessoa/PB, UFPB), da professora Lúcia Maria de Souza Hollanda;  com a edição de duas novas revistas sobre Jesuíno e com  o ensaio historiográfico  A Saga dos Limões- Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante (2011), do médico psiquiatra e sanitarista Epitácio de Andrade Filho, fundador  do movimento.

Dissertação sobre Jesuíno Brilhante
 
 
Capa de A saga dos Limões
 

              Desse evento efêmero-itinerante, a psicóloga Sheylla Maria Moura Rodrigues, especialista em psicoterapia de família e casal, pela  Universidade de Bruxelas, capital da Bélgica, na Europa ocidental aceitou o convite do sindicalista Genésio Neto Pola Pinto para conduzir uma reunião com usuários e familiares atendidos no hospital geral de Janduís, aonde foi apresentado um projeto sobre a realização de encontros para tematizar os campos da radiodifusão comunitária e saúde mental coletiva no médio-oeste potiguar, que vieram a ser realizados nos anos seguintes: O primeiro, em Janduís, no ano de 2000; O segundo, em Patu, em 2001, no Santuário ecológico da serra do Lima; O terceiro, em Martins, no ano de 2002, que contou com a participação dos integrantes do programa “porque hoje é sábado” da radio rural de Caicó, no Seridó potiguar ocidental; O quarto encontro de saúde mental e radiodifusão comunitária do médio-oeste passou para o alto-oeste foi realizado na cidade de Rafael Fernandes.     


Dra. Sheylla Rodrigues em Janduís


 

Santuário do Lima óleo sobre tela

 
            Naquele...

 
 

           Há 18 anos, no sopé da serra do Cangaíra, na zona rural de Messias Targino, no médio-oeste potiguar, a arte contemporânea do artista multimídia Jota Medeiros era apresentada a agricultores familiares. A obra? Os 100- terra

 
Pola( de boné), Epitácio e agricultores familiares com "Os 100 terras" de Jota Medeiros
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 16 de julho de 2017

Katu



         Entre Canavial e resquícios de Mata Atlântica, indígenas do Katu resistem com Resiliência

 
Avanço do canavial e Mata Atlântica


            Na margem do Rio Katu, fronteira dos municípios de Goianinha e Canguaretama, no agreste e Litoral Sul do Rio Grande do Norte, os remanescentes da etnia potiguara retiram da vivência das dificuldades cotidianas a sabedoria para resistir com resiliência.

 
Rio katu



     No território, vivem da agricultura familiar e plantam abacaxi.

 
Agricultura familiar


            Vivenciam um conflito existencial: De um lado defendem a preservação da mata Atlântica, por outro sofrem com a ameaça da indústria sucroalcooleira, expandido o canavial e estendendo as torres de celular. 


Placa de acesso na BR 101 e torre de celular


          Como canta Baby do Brasil: O índio é incapaz de poluir o rio e o mar, por isso o Rio Katu é preservado limpo, como Zeus criou, do território até a sua foz que separa o "quilombola" de Sibaúma, em Tibau do Sul da Praia de Barra de Cunhaú, em Canguaretama. 


Foz do rio katu


O indígena Vando preserva o culto à Jurema Sagrada.

 
Agente de endemias Vando

Ritual da jurema sagrada


 Na escola da comunidade é ministrado tupi-guarani.


Vando, Epitácio Andrade, prof. de tupi e visitantes




        A comunidade preserva uma oca para acolher os visitantes. Durante a tradicional festa da batata, os índios dançam o secular Toré.

 
Dança milenar do toré

Oca no katu


quinta-feira, 22 de junho de 2017

Não - Lugares

Fortaleza do coronel João Dantas de Oliveira
 
                                            foto: Emanoel Amaral
                Casa do coronel João Dantas de Oliveira (1981)
 
                 O não-lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estacoes de metrô, e pelos meios de transporte - mas também pelos museus e ruinas.
                  Só, mas junto com outros, o habitante do não-lugar mantém com este uma relação contratual representada por símbolos da supermodernidade, seja um ticket de passagem, ou cartões eletrônicos, além de documentos e recursos da digitalização fotográfica (fotografias), símbolos que, enfim, comprovam a identidade.
Capa livro
 
 
                  Depois da acusação de cumplicidade no saque a cadeia pública de Pombal no estado da Parahyba, ocorrido no ano de 1874, episódio protagonizado pelo cangaceiro potiguar Jesuíno Brilhante (1844-1879), o coronel João Dantas de Oliveira migrou para o Rio Grande do Norte, onde edificou grandiosa fortaleza no sítio Patu de fora, tornando-se inimigo do outrora aliado Jesuíno Brilhante e manteve vigorosa aliança com a família Limão, cujos membros foram arqui-inimigos de Jesuíno.
 
               foto: Saci
Ruinas da fortaleza do coronel João Dantas de Oliveira (2010)

Família Limão
 

                                         Foto: Carlos Tourinho
Limões no filme (1972)

 

                                      Foto: Rafael Soares
Sítio Patu de Fora (2017) 
                 Afeito a magia, de sua fortaleza o coronel liderou a numerosa família limão para uma investida contra um inimigo que supostamente tinha uma proteção mítica que lhe conferia a inviolabilidade do seu corpo, dai a necessidade de se produzir nesta fortaleza "balas envenenadas", a emboscada que ceifou a vida do cangaceiro Jesuíno Brilhante foi comandada pelo cabo Preto Limão.
 
                                  Foto: Carlos Tourinho
Preto Limão no cinema (1972)
 
 
  

                                  Foto: Canuto Saraiva
Habitante de Não-lugar (sobrado de Belém de Brejo do Cruz/PB)



 
                           Segundo Mário Valdemar Saraiva Leão, 98 anos, em depoimento no documentário O Lugar da Morte de Jesuíno Brilhante, este fatídico episódio ocorreu no serrote da tropa na zona rural de São José de Brejo do Cruz/PB, em dezembro 1879, quando "Jesuíno rastreava a tropa sendo alvejado a pontaria". Teria dito na ocasião: valha-me, nossa senhora! Uma bala envenenada atravessou meu coração.
 
                    Foto: João Lima
Mário Saraiva, São José de Brejo do Cruz/PB (2004)
 


sábado, 17 de junho de 2017

Monografia

Cineasta recebeu escritor
 
 
               No último sábado 17.06.2017, por volta das dez horas o cineasta Carlos Tourinho recebeu em seu apartamento localizado no bairro Tirol em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, o escritor e médico psiquiatra Epitácio de Andrade Filho, como aluno concluinte do curso de especialização em cinema - UFRN 2017 havia solicitado o apoio para elaboração final de sua monografia Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro Potiguar no Cinema Nacional.
 
 
Epitácio Andrade entrega A Saga dos Limões a Tourinho 
 
 
             Gentilmente, Carlos Tourinho que foi o diretor de fotografia do filme Jesuíno Brilhante, o cangaceiro tem disponibilizado seu acervo para a historiografia do cinema potiguar.
 
Epitácio e Tourinho assistem a Jesuíno
Vale do Açu na cena
 
 
               O trabalho monográfico recebe a orientação do professor pos-doutor Alex Beigui.
 
Alex Beigui e Epitácio
              Entre as referências bibliográficas estão dissertações de mestrado:
  • Lugares de memória: Jesuíno Brilhante e os testemunhos do cangaço nos sertões do oeste potiguar e fronteira paraibana. - Lucia Maria de Souza Holanda
  • "Mão branca" em cena: dramaturgia e violência no mito urbano. - Tatiana de Morais Barbosa
Dissertações 
 
 

terça-feira, 30 de maio de 2017

Cantaria

Arte da Cantaria em Patu
 
 

                                       Foto: Rafael Soares
Base e Coluna do Busto de João Carlos na praça do mesmo nome em Patu/RN
                    Nos anos finais da década de 60 e iniciais da década de 70 do século XX, ocorria a "corrida espacial". Na serra do Lima, na zona rural de Patu, começava um projeto arquitetônico de uma basílica que reproduziu o formato de uma cápsula espacial, assentada numa base na arte da cantaria, que consiste na arte de lavrar rochas.

Fachada frontal da Casa Paroquial de Patu



 
               
Pátio da igreja de Patu                                           Corrida espacial em cantaria

                    O mestre Zé Pernambuco que chegou em Patu nesse período foi o grande personagem dessa epopeia cosmogônico que resultou na construção do santuário da serra do lima.

Zé Pernambuco e Arte da Cantaria
Pintura do Santuário do Lima