sábado, 7 de fevereiro de 2015

Louíse Carol


Da Capital Espacial a Capital dos Quebra-quilos- Uma Viagem Cangaceira


Açude Velho Campina Grande/PB

                         Em 23 de julho de 2011, dia do casamento da enfermeira Louise Carol Holanda Andrade com o advogado Alexandre Chagas.  Uma excursão exploratória partiu de Natal/RN, capital espacial do Brasil, por sediar na sua área metropolitana a Barreira do Inferno, importante base de lançamento de foguetes para uma visita a Campina Grande, na Paraíba, considerada a capital da Insurreição dos Quebra-quilos (1874-75), revolta popular pautada na contestação da escorchante carga tributária nacional. Em Campina Grande, os revoltosos atiraram para o fundo do Açude Velho, no centro da cidade, os instrumentos de medida confiscados na feira livre.
 
 
 
                          Buscando aprofundar informações consolidadas no livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante” (2011), no trajeto Natal-Campina Grande, passou-se a visitar possíveis sítios de memória da Revolta dos quebra-quilos, que pudessem levantar indícios da participação dos “Limões”, principais algozes do cangaceiro potiguar Jesuíno Brilhante (1844-79) nesta luta social do segundo império brasileiro. Conforme o historiador Armando Souto Maior, a Revolta começou no distrito campinense de Fagundes.

Barreira do inferno Natal/RN

Feira de Fagundes - 1874
                           Por trás da substituição das medidas tradicionais de peso, capacidade e superfície pelo atual sistema métrico decimal (1872) estava imbuída uma elevação de impostos, cuja carga tributária já era uma das maiores do mundo. A capital da província do Rio Grande do Norte, na época, era uma pequena cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, e a Revolta esteve conflagrada em localidades ao sul do estado, na região do Seridó e no oeste, onde ficou evidenciada a participação da família Limão.
                           Nas adjacências das cidades de Baía Formosa e Santo Antônio, citadas por Armando Souto Maior, como localidades conflagradas à Insurreição dos Quebra-quilos, mais precisamente, em Patané,  na zona rural do município de Arez, encontrou-se uma balança, que foi resgatada do sítio histórico da Ilha do Flamengo, na Laguna de Guaraíras, no final do século XIX, que pode ser remanescente da revolta. A revolta inspirou a cultura popular como se observa no poema musicado por Pedro Joaquim de Alcântara  Cesar.
 

Sou quebra-quilo encoletado em couro,
Por vil desdouro se me trouxe aqui,
A bofetada minha face mancha,
A corda, a prancha me afligir senti.

Nas cãs modestas a tesoura cega
Da minha enxerga só me resta o pó,
Esposa e filhas violentam rudes
As sãs virtudes – seu tesouro – só.

Não há direitos; isenções fugiram...
Nas leis cuspiram desleais vilões;
Crianças, velhos, aleijados aguardam
A triste farda de cruéis baldões.

Em vão, descalços, minha esposa e filhos
Do sol aos brilhos pranteando vêm.
Socorro! Imploram piedade a tantos...
Mas de seus prantos se receia alguém!

E ao quebra-quilo desonrado e louco
É tudo pouco. Quanto a infâmia faz!
Se ali contempla da família o roubo
Aqui ao dobro se o flagela mais...

Vê sua esposa da desgraça ao cimo,
Por seu arrimo, tudo expô-la vão,
Recorda as filhas que sem mãe ficaram
E lhe as roubaram... que perdidas são.

Tiranos vede que misérias tantas!...
Nem a quebranta nem pungir nem ais,
Martírios, ultrajes de negror fazei-me.
Porém, dizei-me se também sois pais!

A bofetada minha face mancha,
A corda, a prancha me doer senti.
A vil desonra da família querida,
Tira-me a vida... de pudor morri