Invasão da Fazenda Dois Riachos
Casa Grande da Fazenda |
Fachada frontal |
Epitácio Andrade com Chico Lobo |
Em entrevista concedida ao escritor Epitácio Andrade, neste
dia 05 de outubro de 2015, no restaurante Mangai, em Natal, capital do Estado
do Rio Grande do Norte, o cidadão nonagenário Francisco Lobo Maia ¨Chico Lobo¨,
de 92 anos, narrou com riqueza de detalhes a invasão da Fazenda Dois Riachos,
localizada na zona rural dos municípios de Catolé do Rocha e Belém de Brejo do
Cruz, ambos no Alto Sertão paraibano, pelo bando do cangaceiro pombalense
Ulisses Liberato de Alencar e do famigerado Sinhô Pereira, um dos mentores do
não menos afamado Virgulino Ferreira, o Lampião.
Imagem ilustrativa de Ulisses Liberato e comparsa |
O bando era formado por 20
facínoras, dentre eles, Gato Vermelho, Gavião, Polvinha e o maníaco Chá Preto,
que bolinou os seios de uma senhora presente no momento da invasão à fazenda.
Na segunda década do século XX, a disputa pelo mandonismo coronelístico no
Sertão nordestino motivou o fatídico ataque à fazenda do coronel da guarda
nacional Valdivino Lobo, genitor do senhor Chico Lobo.
Coronel Valdivino Lobo |
Depois de sair, por
divergências com o chefe político José Queiroga do município de Pombal, na
Paraíba, onde se localiza a Fazenda Estelo, propriedade de seu genitor
Francisco Liberato de Alencar, lugar onde nascera em 1894. Ulisses Liberato
migrou em 1918 para Milagres, no cariri cearense, onde ficou homiziado na
Fazenda Trapiá do major-coiteiro José Inácio de Souza, conhecido como major Zé
Inácio do Barro. A mando do major-coiteiro Zé Inácio do Barro, Sinhô Pereira e
Ulisses Liberato comandaram o ataque à fazenda Dois Riachos. Cuja empreita
envolvia semelhante ação criminosa contra outras fazendas vizinhas, como as
pertencentes a Adolfo Maia e a Rochael Maia. A fazenda de Adolfo Maia foi
depredada por Sinhô Pereira e a fazenda de Rochael Maia não chegou a ser invadida.
No percurso do Ceará a Paraíba, o bando enfrentou uma força pública próximo a
cidade de Catolé do Rocha o que motivou sua entrada na cidade de Jericó, onde
promoveu depredações e roubos. Antes da invasão, os cangaceiros pernoitaram na
Fazenda Santana, do senhor Antônio Saldanha, na zona rural de Catolé do Rocha.
Na época da invasão à Fazenda Dois Riachos, o almocreve e já cangaceiro Ulisses
Liberato, casado com a sertaneja Santina Benevides, desde 1919, tinha o Povoado
do Jordão, localizado entre os municípios de Patu e Caraúbas, como seu ponto
estratégico. No livro Jordão e seus Habitantes, prefaciado pelo mestre
sertanista Raimundo Soares de Brito (Raibrito), a escritora caraubense Raimunda
Dalila de Alencar Gurgel informa que o povoamento do Jordão começou em 1870. Em
1892, foi construído o açude. E foi reconstruído em 1926, depois de arrombar
numa cheia.
Escritora Dalila Alencar |
Raibrito com A saga dos limões (2011) |
Em 1937, foi construída a capelinha de Imaculada Conceição,
pelos pedreiros Tião Maia e Zé Pequeno. As senhoras Raimunda Godeiro e Maria
dos Anjos auxiliavam na realização das novenas. A imagem da santa foi trazida
do Rio de Janeiro/RJ, por dona Brígida Saboia.
Capela do Jordão |
Em 23 de setembro de 1943, foi realizada a primeira festa da
padroeira.
Em 1964, foi adquirido o harmônio.
Harmônio |
No período de 20 a 22 de julho de 1950, ocorreram missões de
Frei Damião e Frei Fernando, acompanhados pelo bispo João Batista
Portocarreiro.
Em 1926, foi construída a casa de Quincas Godeiro.
Em 1930, teve início o roço da caatinga para a construção da
estrada de ferro Mossoró-Souza.
Em 1936, o engenheiro Manoel Marques entregou a estrada de
ferro.
Da Fazenda Dois Riachos foram subtraídos dois contos e
oitocentos mil réis, além de 120 libras esterlinas. Valores integralmente
entregues ao major Zé Inácio do Barro, que recompensou Ulisses com 200 mil réis
pelo serviço.
Depois do assalto, Ulisses ficou refugiado em Juazeiro por
dois meses.
No mesmo ano da invasão a sua fazenda, o coronel Valdivino
viajou ao Rio de janeiro, capital federal do Brasil, para um encontro com o
presidente Epitácio pessoa que fora seu contemporâneo no ciclo ginasial.
Epitácio Pessoa |
Era o
tempo da ¨Política das Salvações¨, que pretendia instituir uma nova ordem e
defendia um combate ao coronelismo. A
invasão à Fazenda do coronel Valdivino
teve grande repercussão na imprensa.
O presidente depois de ouvir o relato do
ex-colega articulou a integração de autoridades das províncias do nordeste para
unir forças numa perseguição implacável ao major-coiteiro Zé Inácio do Barro e
um combate sem tréguas ao cangaceirismo. No dia 11 de setembro de 1922, Ulisses
Liberato, sem o bando, foi preso na comunidade de Alagoinha, em Lavras da Mangabeira,
no Ceará e, em seguida, recambiado para a cadeia do Crato sendo minuciosamente
interrogado no dia 24 de janeiro de 1923 pelo delegado major Raimundo de Mores
Brito e recolhido à prisão, onde já se encontrava Chá Preto e Polvinha. Chá
Preto teve a mão direita decepada à machadada. A pretexto de ser feita a sua
barba foi chamado um barbeiro, que realizou um trabalho de um ofício medieval,
o barbeiro-cirurgião.
Barbeiro-cirurgião |
Cravando-lhe um punhal na subclávia, o maníaco agonizou
até a morte.
O major Zé Inácio não resistindo a implacável perseguição,
resolveu emigrar para Goiás, aonde veio a ser assassinado, em São José do Duro
(uma corruptela de São José do Ouro, hoje no estado de Tocantins).
Em setembro de 1923, Ulisses Liberato, com 29 anos foi sumariamente
fuzilado. Polvinha o acompanhou na linha de fuzilamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário